Pular para o conteúdo principal

Viva La Revolución! Viva Fidel! Viva Cuba!




Liberdade e Desenvolvimento. Essas duas palavras me acompanharam por minha viagem agora em julho a Cuba. Não porque estivesse em uma prisão ou porque estava em um país desenvolvido, mas porque esses conceitos assumiram outro significado ao conhecer aquela terra difamada pelo Brasil e também pelo mundo. Na verdade, a frase que ora reverbero é a de Don Ernesto: deixe o mundo mudar você e, quiçá, você poderá mudá-lo.
Saí daqui com a impressão de que encontraria uma terra em situação semelhante à do Haiti ou à da Índia. Esgoto a céu aberto, grandes prédios em ruínas, grandes cortiços, crianças famélicas e numerosas às ruas, pessoas perambulando sem qualquer rumo, entre outros aspectos de terror e pobreza. Mesmo sabendo dos carrões antigos às ruas, dos excelentes atletas negros, da simpatia do povo e do sistema preventivo de saúde exemplar para o mundo, várias pessoas me “avisaram” de que este não seria um destino ideal (senão meu colega de profissão, e amigo, Júlio Alves que me dissuadiu de ir a terra do Tio Sam para conhecer a terra do General Fidel). Aconselharam-me a levar, por exemplo, pente e sabonete sobressalentes, já que as pessoas dali sempre estão precisando desse tipo de produto. Esses conselhos estavam no mesmo nível da saga de escambo que os conquistadores espanhóis e portugueses tiveram com os índios há mais de 500 anos quando por aqui aportaram.
Todavia, a sensação de liberdade e de desenvolvimento que tive ao conhecer um pouco mais da verdade daquele país, fez-me ter a certeza de que Cuba ainda é um país que surpreende tanto como outros tantos países europeus em que já estive.  Isso porque existe muito, mas muito mais do que se sabe pela televisão ou se ouviu pela História de Fidel Castro, Che Guevara ou Camilo Cienfuegos.
Ruas arborizadas, pessoas bem trajadas para o verão, comércio pujante, ônibus e táxis indo e vindo, filas enormes para comprar sorvete e ir ao cinema foram as primeiras impressões que tive da capital La Habana. Pensei comigo: acho que desci em outro lugar. Os doutores brasileiros sempre me disseram que era a miséria que imperava por ali, mas o que estava presenciando era algo muito parecido com o centro de Belém do Pará, mas sem esgoto a céu aberto, sem a sujeira das ruas e, claro, sem a feira do Ver-o-Peso.
Muito diferente do que dita a sabedoria brasileira, Cuba tem liberdade e desenvolvimento de sobra, muito além daquilo que qualquer cidade brasileira pode oferecer. Para começar, não há o que se preocupar com segurança. Nada. Nada. Nada. Não porque estejam ocupadas por tropas do exército ou espiões à paisana quando da ditadura brasileira. Ali se pode caminhar em qualquer ponto da cidade e a qualquer hora com tudo e como você quiser. O Malecón, por exemplo, espécie de calçadão da orla de Havana, é bom exemplo disso. Famílias, jovens, crianças, velhos, rapazes e gineteras (nomeação local para as nossas “primas”) misturam-se pacificamente por horas e altas horas do dia e da noite. Em função do verão e também das férias, aquela avenida é muito mais agradável até mesmo que a orla de Copacabana. Não há um Drumond ali, mas há salsa, cantores, vida e segurança que policiais e o próprio povo ofertam para si e para todos que ali perambulam e desfrutam da boa brisa do mar.
Esse é o mesmo povo, saudável e sorridente das propagandas de outras ilhas caribenhas que passam nas Tvs europeias. Talvez porque a saúde deles esteja quase no mesmo nível do Europa, isto é, a anos-luz do Brasil, onde imperam a liberdade e o desenvolvimento. Para se ter uma ideia, médicos são obrigados a sair de seus consultórios e a visitar seus pacientes em casa. Isso porque a população e as ruas são divididas para médicos e outros agentes de saúde sobre quem recai a responsabilidade de cuidar de verdade da saúde das pessoas, independente se morarem em cortiços ou casas simples. Aliás, o nome dos médicos estão inscritos nas portas de algumas casas para todos saberem quem é o responsável por aquele conjunto de pessoas. Se ainda a falta de saúde chegar de repente, o povo tem a cada número de quadras um policlínico, espécie de centro de saúde onde se encontram médicos clínicos, ginecologistas, pediatras e outras especialidades para um pronto atendimento. Depois disso, se ainda a saúde insistir em não chegar, há os grandes hospitais (geralmente muito bem equipados e vazios, obviamente, já que as pessoas são tratadas em sua maioria em suas casas) devidamente preparados para os casos de alta complexidade. No Brasil, há muita liberdade e desenvolvimento para que médicos prescrevam sempre remédios caros e as indústrias farmacêuticas lucrem absurdamente com a pobreza e a ignorância do povo. Isso é nossa liberdade e nosso desenvolvimento. Na terra de Fidel, contudo, médicos aprendem a prescrever remédios baratos, subsidiados pelo governo e, principalmente, remédios homeopáticos eficazes para o tratamento de seus pacientes. As farmácias de lá não se parecem mini supermercados (como em países livres e desenvolvidos de alhures), mas lugares de onde remédios e os elementos da cura podem realmente sair.
Aqui, mas não na famigerada terra de Fidel, a liberdade e o desenvolvimento estão estampados apenas em algumas escolas de classe média alta. Em Cuba, esses valores não precisam estar estampados ou esnobados por seus alunos, mas estão interiorizados em uma educação decente, gratuita e de excelente qualidade. Basta você conversar com o taxista, com o garçom, com a recepcionista, com o vendedor de cachorro quente ou mesmo com o velhinho que mora ao lado para receber uma aula de economia, de história, de engenharia, de turismo, de civilidade. Desde 1970, Cuba é um país livre do analfabetismo. Em contrapartida, na nossa terra tupiniquim livre e desenvolvida (dizem alguns, a oitava economia do mundo!!), o analfabetismo bate à porta em todas as esquinas, bairros e cidades. A educação fundamental e superior de qualidade parece um bem acessível a poucos. Na ilha de Fidel, a educação é gratuita e para todos e, por isso também, é sem dúvida, um exemplo.
Essa educação superior, aliás, foi responsável pela formação em medicina, por exemplo, de 300 brasileiros, agora em julho de 2014. A maior turma de brasileiros da história cubana. Aliás, muito pouco parecidos com os filhos da classe nobre brasileira que estudam nas faculdades públicas e particulares de medicina como resultado da perpetuação do poder. Ali havia LIXEIRO (isso mesmo, um gari conseguiu se formar em medicina!!!), favelados, pessoas sem quaisquer condições financeiras estudaram numa faculdade de medicina de qualidade e estão aptos até mesmo para serem recebidos em quaisquer rincões de alhures. Essa turma brasileira precisou sair do seu país e enfrentar a dura realidade de outra cultura a fim de conquistar um sonho que, de certa forma, foi-lhes negado por seu próprio país, por seus governantes. Os estudantes chegaram a dizer que foi graças a Lula e a Dilma que conseguiram sua formação, mas eu digo que eles mesmos são os grandes vencedores que foram, viram e venceram. Esses dois governantes não passam de uma demagogia barata, teatral e pessoal no que tange às relações com a ilha de Fidel. Aliás, o cônsul do Brasil em Cuba, muito gaguejou quando perguntado por mim sobre o investimento do BNDES no porto cubano. Formar brasileiros no exterior é, de certa forma, evidenciar a incompetência administrativa (e não intelectual ou criativa de nossos docentes) de um governo que não tem, como Cuba, a educação pilar.
A constituição cubana é construída, ao que parece, apenas de sonhos compartilhados. Como dizia Che: podem morrer as pessoas, mas nunca suas ideias. Isso traduz o socialismo o que ainda persiste e divide com a dura realidade a riqueza material e espiritual compartilhadas. Por aqui, ao que parece, nem aos sonhos das massas temos mais direito a ter, porque mesmo sendo livres e desenvolvidos estamos no mesmo patamar de uma ditadura que nos sufoca, dizima e persegue, tais como as bombas e a repressão dos protestos de junho de 2013 mostraram ou ainda a perseguição aos ícones de uma verdade Justiça Suprema. Talvez o ideal por aqui seja mesmo do de lá: lutam melhor os que têm belos sonhos, como afirmava Che.
Claro é que a ilha de Fidel não é uma Wonderland, tal como sonhou Michael Jackson, ou Lewis Carrol (de Alice no País das Maravilhas), ou mesmo Karl Marx e Engels em seus pilares escritos. Liberdade e desenvolvimento têm pontos e contrapontos que estão longe de serem desvendados por aquelas bandas. Todavia, o que chama atenção não são apenas as lindas águas cálidas e verdes do Caribe, mas como um povo unido tem forças para resistir, mostrar e ensinar para as terras de liberdade e desenvolvimento em que imperam outros ideais menos sociais e menos progressistas como os cubanos.

Com permissão a tantos teóricos e pragmáticos que leio e reverbero quanto a um desenvolvimento sustentável, embasado num ideal capitalista, mas a visão de outras terras me fazem crer, tal como Don Ernesto advertiu, que as tantas rosas que os poderosos matam nunca conseguirão deter a primavera. A primavera de uma terra socialmente mais justa. E, com a permissão concedida, tal como aqueles graduandos brasileiros bradaram no dia de sua formatura a que estive presente, também quero dizer: Viva la Revolución! Viva Fidel! Viva Cuba!!!

Comentários

  1. Na verdade o regime comunista cubano está falido e longe de modelo para qualquer sociedade. A questão da prestação dos serviços públicos aos cidadãos, principalmente na saúde, educação e segurança pública, entre outras que se destacam é o que cidadãos de qualquer regime lutam para ter.
    As manifestações de rua, as greves e protestos de qualquer natureza contra autoridades e gestores da coisa pública, buscam justamente isso.
    Se no Brasil não temos nada disso não é porque o regime republicano é um modelo que deva se transformar em regime comunista/totalitário, que ruiu no mundo todo.
    Pelo contrário, senão fossem a CORRUPÇÃO, AS ROUBALHEIRAS E A IMPUNIDADE, seríamos exemplo para o mondo todo em todos os sentidos, temos uma economia que mesmo pagando os impostos, juros mais alto do mundo, com agiotagem oficial dos bancos públicos e privados, assaltos institucionais com indústrias de multas, da seca, de precatórios fantasmas que endividam as prefeituras, o estado e a união, tudo com o beneplácito do poder judiciário, do ministério público e dos “tribunais de faz de contas” que não servem para nada, porque se servissem certamente não haveria tanta corrupção.
    Precisamos sim de um choque de moralidade no executivo, de um Congresso que cumpra com suas funções e que reduza seus custos adequados ao poder aquisitivo da realidade da maioria dos brasileiros.
    Esse é o Brasil que queremos e não o modelo de cuba que vivia da esmola da extinta União Soviética e hoje do Brasil, Venezuela, Bolivia e outros países governados por governantes desprovidos de qualquer qualidade mínima, que sequer consegue respeito de seu povo.
    Parabéns Doutor Rogério Rodrigues pela excelente contribuição, que vale a pena refletir.

    Elizio Brites
    Empresário, Consultor de Empresas e Bel. Em Direito.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Comente e deixe seu contato para estabelecermos uma melhor comunicação

Postagens mais visitadas deste blog

Freud não morreu. Ele está vivo e mora no sul do país.

                    Isso mesmo, caros amigos, Freud não morreu. Estive com ele na minha última viagem que fiz ao interior do país. Que emoção!                Pensei que se tratava de uma brincadeira qualquer, mas durante uma apresentação que fazia a alguns empresários no interior do sul do país, o camarada chegou (atrasado - pasmem vocês, ele já pegou essa mania brasileira), sentou-se, e prestou-me sua atenção. O que me impressionou, no entanto, foi o que disse após o evento. Ele me confessou que tinha gostado muito do tema da apresentação e que, por acaso, também estava desenvolvendo trabalhos sobre desenvolvimento sustentável ali naquela cidade. Meu Deus. Freud e Marina Silva estão agora lutando por uma mesma causa!                Confesso que levei um susto quando ouvi aquilo, mas pelo visto, neurose, complexo de Édipo, ego, histeria, psicanálise, sonhos já não ocupam mais o tempo de Freud. Os tempos mudaram, modernizaram-se. E Freud também! Agora, segundo ele, algumas coisas mais i

Comecemos a sorrir. Não nos custa nada!!!

Nós seres humanos temos seis bons motivos para sorrir cada dia. As pessoas risonhas vivem mais, gozam de maior saúde, tem melhores relações, são mais atraentes, desenvolvem sua inteligência e disfrutam de maior equilíbrio emocional, segundo alguns estudos. Para um bom humor, incluindo se não estão em seu melhor momento, seu sorriso transmite afeto, confiança e aceitação. Claro que nem todos os sorrisos são iguais. Guilherme Duchenne foi um médico francês que no século XIX estudou o tipo de sorriso que produz estes benefícios, denominado sorrido Duchenne. Um sorriso que envolve canais neurológicos com os centros emocionais do cérebro e a zona do córtex que regula os processos intelectuais. Nos bebês, por exemplo, o sorriso indiscriminado está associado à necessidade vital de apego. Indica que as pessoas lhe são interessantes porque os oferecem muitas possibilidades de intercâmbio e aprendizagem. A partir dos cinco meses, o bebê sorrirá apenas a quem reconheça como familiar,

Neoliberalismo e o mundo de coxinhas, asinhas, petralhas, recatadas do lar, entre outros.

O ex-presidente Fernando Henrique ficou marcado pelo início (ou continuidade) do processo de privatização. Hoje, mais de duas décadas depois, mencionar esse processo pode não ter grandes impactos, principalmente entre os mais novos. Ainda que os ouvintes tivessem ouvido falar sobre privatização, modernização do Estado, neoliberalismo, muitos não se esforçariam para defini-los. O anonimato do processo neoliberal intensificado (tardiamente em relação aos EUA, Inglaterra, Chile) é um sintoma e também uma causa de seu poder. Mais recentemente essa ideologia esteve ligada a uma variedade de crises: a financeira de 2007/2008, a crise das offshores que culminou no que foi chamado de Panama Papers e, mais recentemente, a eleição de Donald Trump. A maioria de nós responde a essas crises como se elas emergissem isoladamente, aparentemente sem ter consciência que elas foram catalisadas ou exacerbadas pela mesma filosofia coerente. Tão persuasivo que o neoliberalismo se tornou que quase