Esses dias aqui
em Portugal têm sido bons e ruins. O lado ruim é que efetivamente os estudos te
consumem uma energia sem fim. E com isso vão o teu sono e até mesmo sua saúde.
Não tenho conseguido dormir mais que quatro horas por noite. É complicado
mesmo. Certa noite, então, depois de ter estudado bastante, resolvi encarar uma
dose mais alta do remedinho que meu médico havia me receitado ainda no Brasil
(queria me referir também a uma outra médica como minha, mas essa, infelizmente,
nunca quis nada comigo …eheh). Tomei logo quatro pílulas a fim de descansar e
esquecer o frio que hora começa por essas bandas. Foi tiro e queda. E que
queda!
Acordei subitamente
em pé em frente a um outro Rogério. Loucura. Loucura. Via-me ali em pé, com
minha mala e mochila velhas de guerra, todo empacotado contra o frio. Parecia a
saída de um aeroporto. Só que tinha um detalhe: nunca tinha estado ali. Meio
que deseperado corri para me tocar e tentar conversar comigo mesmo, mas parecia
aqueles filme holywoodianos. Não conseguia me tocar. Minha mão transpassava aquele
corpo que bem conhecia como meu. Levei um susto do caraças, até que de repente
eu (o outro, lá em pé!) virei para o lado e ouço um camarada falando algo do
tipo: shiii, só com o pai siba! Olhei com mais atenção e não pude deixar de
notar também aquela loira linda, toda produzida, dos olhos azul-celeste, pele
branca, com a oferta de um sorriso mais maroto e gostoso que tinha visto até
ali. Pensei (eu e o outro lá em pé, com certeza!): caracas esse Pai Siba deve
ser forte por essas bandas.
A observação
àquele monumento humano foi subitamente quebrada com um SMS no meu celular: “já
chegamos, mas estamos com medo da imigração. Muito medo!!!!!!!”. Jesus, o que
aquilo realmente significava? Estava, ao menos escrito em inglês, mas o lance
não era nem esse, mas sim, porque estava com aquele celular velho e não com meu
iPhone???? Meu Deus, será que tinham me roubado? Será que eu tinha perdido
naquela viagem onírica louca??? Não, não, não, não!! Nas minhas atuais
condições eu não posso comprar outro aparelho daqueles. Jesus, guarda meu
iPhone das pessoas más, meu Deus! Por favor!! Não, não, não!!! Enfim, o outro
Rogério relaxou e ficou ali no mesmo lugar. Vários camaradas vinham até ele
falando uma língua que era completamente desconhecida. Completamente. Só sei
que o outro Rogério fica dizendo “niet, niet, niet”. Oshh, onde será que eu
tinha aprendido aquelas palavras? A coisa estava mesmo ficando cada vez mais
cinematográfica.
E holywoodiana
mesmo ficou quando eu saí do estado pateta de dizer “niet, niet” e me dirigi
àquele casal que acabara de passar. Ela, por certo não seria piauiense ou
amapaense (eheheheheheh), parecia, no mínimo com alguma alemã ou norueguesa. Já
ele tinha cara daqueles cowbois texanos. Andei na direção deles,
cumprimentei-os e perguntei como havia sido a viagem e tals e tals. Quando de
repente, passam-me várias imagens e acabei (o outro eu) reconhecendo o casal.
Jesus. Era na verdade Mick Dundee e Sue Carlton. Sim, sim, sim. Eram eles.
Tenho certeza que eram eles (e antes que você vai ao mestre Google perguntar
quem são essas pessoas já adianto logo pra você: era o casal central do filme
Crocodilo Dundee). A jornalista loira e de olhos verdes, que tinha uma voz rouca
(diferente do filme), carregava uma super bolsa que parecia ter 50kg e o cowboi,
com seu chapéu texano, andava com uma sandália do tipo Ipanema e segurava uma
malinha rosa pink, daquelas fabricadas bem na periferia de Beijing.
Aquele encontro
me assustou um pouco, sobretudo, porque, eu (o da vida real), sequer sabia da
existência daquelas pessoas. Só que o outro Rogério seguiu com o casal como se
já tivesse intimidade. E como um eterno curioso, fui atrás a ouvir. Estavam
falando de viagens, de coisas de outras cidades, de aventuras na África.
Parecia empolgante conversa, até que eu (do do aeroporto) paro e pergunto: por
que já não saímos e pegamos um táxi? Parecia que eu tinha contado a piada de
portguês mais engraçada do mundo porque os dois começaram a rir e me disseram:
Rogério, você está na Rússia e não nos EUA ou na Alemanha. Se a gente sair
agora, agora duas coisas vão acontecer. Primeira, nós morreremos de frio.
Segunda, os taxistas vão nos roubar descarada e silenciosamente.
Jesus. Deus.
Emanuel. Na Rússia?????????? Como é quatro comprimidinhos daquele do médico
brasileiro me fizeram ir tão longe??? Acho que da próxima eu vou tomar uns dez
para tentar ir até o Japão (eheheheheheh)!
Mas pronto.
Perguntei então para Sue: por onde e como nós vamos? Ela me respondeu que, pelo
horário da madrugada (2h30 da manhã) deveríamos ficar por ali e esperar o trem
das 7h manhã para então seguirmos para a casa do casal que nos hospedaria. Boa
notícia. Não ter que pagar pela hospedagem era bom, mas ficar ali naquele
aeroporto (Domodedovo) que mais parecia uma estação rodoviária do interior
goiano seria aterrorizador. As pessoas ali pareciam vir daqueles países
Cazaquistão, Curdistão, Turcomenistão que ninguém sabe onde é e nem sabe onde
fica no mapa.
O jeito foi
passar a madrugada por ali conversando e jogando papo fora. Sue me contou sobre
como estava sua vida. Das coisas boas que haviam lhe ocorrido depois do perrengue em Portugal
(eheheh….acho que todo mundo nesse país passa um perrengue). Conseguiu um
emprego no New York Times e agora fazia o caderno de turismo. Tinha viajado
havia algumas semanas para África e estavam ela e Mick em um reconhecimento na
cidade de Berlim quando partiram para a capital russa. Mick disse que tinha ficado
muito encantado com Berlim, mas principalmente com algumas estações da linha U2
(até me perguntei se sabia se aquela tinha sido a inspiração para o grupo
irlandês ….ehehehehe). Sue disse-me também que foi naquelas linhas que Mick conseguira
salvar uma aranha de dentro de um vagão. Sue riu dessa história dizendo que só
o Mick mesmo para tirar uma caixa plástica vazia de suas coisas e colocar ali a
aranha (pequena e completamente inofensiva) para então deixá-la no jardim mais
próximo de uma estação. Era um amor quase irracional por todos os bixos, todos.
Conversa foi, conversa veio. O sono foi e o sono veio. Até que o relógio da
estação “aeroportuária” bateu 6h. Propus então que saíssemos para pegar o trem.
Seguimos então
para o Aeroexpress do aeroporto. Pensei que haveria ticket offices eletrônicos apenas
em russo ou na língua dos curdistões, cazaquis etc etc etc., mas ainda bem que
havia também em inglês. Relativamente barato o ticket (320 rublos), compramos e
seguimos para o embarque. Ao passar aquele ticket pela catraca do Aeroexpress a
pessoa que estava logo atrás de mim disse aquela mesma frase: “shi, só com o
pai Siba”. E por incrível que pareça, quando olhei pra trás, o policial também
estava com o mesmo sorriso maroto daquela russa no desembarque. Pensei comigo:
Meu Deus, esse Pai Siba devia ser forte para os homens e também para as
mulheres ali.
Sue disse que
acabara de receber uma mensagem de Sergey Gigio no celular dizendo que ele estaria
no final da linha, já no centro da cidade, à nossa espera. Fiquei mais
tranquilo por ter alguém ali nos esperando. Efetivamente não estava muito a fim
de brincar de imagem e ação por aquelas bandas para chegar no nosso destino
final.
Sergey Gigio
estava mesmo lá quando chegamos à estação Paveletsky. Era um russo que
abandonou a vida de rapper e se dedicava agora a ensinar tango. O cara era
ainda mais esquisito (no sentido mais “alegre” da palavra..eheheh) quando
arranhava o espanhol jurando que tinha morado em Buenos Aires. Perguntei,
então, a ele se na Rússia também tinha muito “Pajero” e ele disse que não sabia, o que me levou à conclusão que
efetivamente ela nunca tinha estado nas bandas portenhas. Deve ter aprendido
tango ali pelo meio da Itália com algum marroquino emigrado do Peru (eheheh).
À medida que
fomos nos aproximando do seu carro percebi que as coisas haviam mesmo mudado na
Rússia. Vi muitos Mercedez, BMWs, Volvo, Chrisler. Tinha até uma Ferrari azul
ali na estação. Imaginem. Tinha até mesmo um Lada meio enferrujado no meio
daquela multidão de carros. Comecei a rir porque me lembrei que aquilo ali
devia ser devolução de algum país como o Brasil, resultado de algum recall da
marca.
PQP! Parece sina
de pobre mesmo. Nem quando estou sonhando eu conseguiria andar numa daquelas
máquinas possantes e fálicas? Isso porque Gigio parou em frente ao único Lada
enferrujado que havia em todo o estacionamento. Ok. Ok. Ok. Trata-se apenas de
um sonho, mas quando eu vi que o camarada abriu o carro, abriu as portas para
nós e nesse meio tempo tirou as duas paletas do para-brisas do seu possante, vi
que andar naquele carro seria uma aventura africana em plena moscou e também
que aquilo não era nenhuma comédia holywoodiana. Eu e toda aquela trupe tivemos
que levar nossas malas no colo mesmo porque o bagageiro do carro estava cheio
de lama e molhado, já que no dia anterior havia chovido.
Chegamos enfim à
casa de Sergey e Natasha Lesnaya perto já das 10h. Era um apartamento bem
aconchegante de dois quartos, cozinha e banheiro. E só. Isso mesmo. Não havia
sala e nem televisão a cabo para eu, mesmo sonhando, tentar assistir aos
últimos capítulos da minha novelinha. O apartamento ficava em um conjunto de
prédios baixos, muito, muito, muito parecido com o que temos em Brasília.
Prédios baixos de até quatro andares distribuídos aleatoriamente pela quadra,
espaço de convivência, banca de jornal na entrada da quadra. Acho que o Lúcio
Costa devia ser comunista. Aliás, essa teoria não é só minha. Andando pelas
ruas daquele bairro, constatei o quanto Brasília tinha de Moscou.
Sergey e Natasha
eram amigos de Sue. Não consegui entender direito a fala introdutória entre os
três porque parecia que tinha um lance de envio de carta, envio de mensagem por
internet, um lance de sofá velho. Sei lá. Fiquei preocupado com Rogério porque
ele já quis saber onde era o banheiro e seguiu quase correndo pra lá.
Atravessei a porta porque não estava mesmo materializado e acabei ficando menos
preocupado. Coisas normais de ser humano.
O quarto que
dormiríamos era pequeno. Sue e Mick na cama de casal e eu em um colchão
inflável. Isso não seria problema, caso houvesse um aquecedor naquele quarto já
que o frio começou a apertar. Deixamos as malas e Sue já propôs que saíssemos
logo para tentar aproveitar o dia. Natasha e Sergey nos deixaram as chaves e
seguiram para o trabalho. Nós pegamos o mapa do metro e as indicações que já
haviam dado a Sue e seguimos para a Praça Vermelha.
Essa saidinha de
casa seria um programa super normal para alguém que está acostumado a russso, a
frio, a chocoalhar, a ser empurrado, mas sobretudo a ficar perdido. Meu Deus,
andar no metro de Moscou é duas vezes pior que andar pela estação da Sé de São
Paulo no seu horário de pico. Como tudo na vida, a coisa boa é que passa uma
russa linda a cada 4 segundos, mas a coisa ruim é que se você olhar pra trás para
contemplá-la você esbarra em alguém e cai. Se você conseguir chegar às linhas
certas e aos vagões certos (numa mesma estação, às vezes passa três linhas e
detalhe: o nome da estação está em russo e bem pequenino no meio da parede da
estação, ou seja, tu tá ferrado se não for esperto e ficar que nem um tonto
dentro do vagão contando o número de estações até o seu destino) e entrar em um
deles. Você também vai ter a sensação de que Stalin deveria gostar imenso de
liquidificador. Isso porque mandou todos os vagões de metro chocoalharem,
chacoalharem como se estivéssemos sendo batidos num grande Milk Shake humano. Aquilo
era muito louco.
Depois de ter
superado a primeira aventura no metro de Moscou e orado bastante para que Mick
não encontrasse alguma aranha (ou uma joaninha, de repente) pelo caminho para
tentar salvá-la, chegamos à famosa Praça Vermelha. A primeira impressão é de
que você está num grande set de filme. Aqueles muros vermelhos, aquela igreja
toda colorida, aquele espaço enorme vinham todos acompanhados de outras cenas
históricas de soldados e lança mísseis em desfile sob os auspícios dos grandes
chefes de Estado soviéticos e de multidões em aplausos. Era emocionante saber
que estava no mesmo lugar que só via e ouvia nas aulas de história e pela
televisão. Agora eu podia ver (ainda que fosse um sonho induzido pelas pílulas
do médico ..eheheh) o que realmente tinha sido a perestroika e a glassnost que
tantas vezes caíram nas minhas provas de Geografia, História e até de OSPB
(aqueles que não sabem o que isso significa, é porque efetivamente não viveram
os momentos históricos a que me refiro).
Sue com sua
máquina profissional não parava de tirar fotos. Mick com outra também profissional
tirava também as suas. Meio loucas também e de uns ângulos que não conseguia
entender o significado (acho que os aborígenes do interior australiano
conseguiriam decifrar aquilo).
Depois de passado
o êxtase daquela praça enorme e depois de ter entrado na igreja de São Basílio
seguimos para o GUM, templo maior do consumo russo. Só marca europeia da mais
alta estirpe. Prada, Gucci e Louis Vuitton pareciam coisas de 25 de março. Era
também o espaço preferido das noivas para suas fotos de prévia e ainda das
modelos para suas fotos de coleção. Até Sue, com toda sua experiência
americana, ficou surpresa com todo aquele consumismo de luxo.
Saímos da praça e
seguimos para seus arredores na tentativa de encontrar alguma coisas mais inusitadas.
Encontramos o famoso ballet Bolshoi, vimos também a frente do Kremlin,
avistamos algumas outras igrejas bonitas e ainda o rio que corta a capital.
Nessas andadas
observei também mais um camara falando para uma russa: Shii…só com o Pai Siba.
Esse Pai Siba era mesmo forte. Já era a terceira vez que ouvia alguém falar
daquele Pai Siba e como todas as vezes via a outra pessoa esboçar um sorriso
maroto. Resolvi que também faria a propaganda daquele Pai em plena Moscou. A
estratégia seria mais ou menos assim: se alguém fizesse alguma coisa legal para
mim eu falaria do Pai Siba, ou mesmo se visse aquela russa de olhos azuis em
direção contrária, também falaria do Pai Siba. Não sei o que daria, mas ia
tentar ousar um pouco mais nas terras de Tolstoi, Dostoiévsky, Putin, Lênin,
Stalin etc etc. Estratégia montada e arquitetada, agora era hora de colocá-la
em ação.
Voltamos à praça
para mais uma sessão de fotos e seguimos para a segunda aventura metroviária
russa. Passe na mão, mapa também em russo, remedinho contra enjoo já tomado
(isso para o sensível do Mick, embora Sue também tenha reclamado dos
chacoalhões). Seguimos para o dois-quartos-banheiro-e-cozinha que estávamos
hospedados. No meio do caminho houve lá umas três russas que me olharam e eu me
lembrei da palavrinha mágica: shii só com o Pai Siba. Meu Deus!! Deu certo! As
mulheres olharam pra mim e deram aquele sorriso maroto, bonito, como se
perguntasse: onde é que o Pai Siba aí está hospedado?? Ah, se eu soubesse
fornecer as informações corretas ….
Depois de uma
hora no metro, conseguimos chegar ao dois-quartos-banheiro-e-cozinha russo que
nos hospedava. Natasha e Gigio não haviam chegado ainda, mas fomos logo dormir.
O dia seguinte prometia ainda mais.
Logo cedo, levantei-me
e fui para a cozinha onde Natasha e Gigio já estavam. Como ambos falavam bem o
inglês a comunicação foi boa. Natasha propôs um café da manhã bem ao estilo
russo: uma massa com uma farinha e queijo, um mingau de aveia com abóbora e
café. Não sei se era a fome junto com o frio, mas estava tudo muito gostoso.
Natasha disse-me para não esperar por Sue e Mick. Ela pensava que iam demorar.
Tomei meu café e nesse interrégno descobri um pouco da vida de Natasha e Gigio.
Ele era professor de tango na cidade e ganhava mais de € 75 por hora com suas
aulas particulares (isso foi ele que disse, pois não há registros na KGB que
comprovem essa soma tão alta para uma aulinha particular de tango…ehehe) e ela
era importadora de ervas culinárias e chá. Importava de toda a Ásia,
especialmente da China. Ervas e tango. Acho que essa não era uma dupla russa
muito esperada por mim, mas como a vida sempre dá voltas e sempre é inusitada,
resolvi que aprenderia mais da vida com aqueles dois.
Só não aprendi
mais porque quando eu voltei para o quarto para sinalizar Sue e Mick sobre o
horário avançado, vi Sue sentada à beira da cama e Mick em pé à sua frente com
as pernas entreaberta numa posição meio Kama Sutra ao contrário. Sue estava prestes
a exercer atividades que só o proctologista costuma realizar ao que Mick
gritava “my ass hurts”, “my ass hurts”. Putz...agora eu entendia porque o cara
não queria sentar em lugar algum, andava super devagar e havia demorado imenso
no banheiro na noite anterior. Mick ficou super desconcertado com aquela cena e
Sue tirou o dedo de onde devia e correu do quarto. Eu mal conhecia o cara e já
tinha sido obrigado a ver aquela cena horrível. O camarada então me confiou que
estava “meio doente” e precisa de ir a uma farmácia. Sue não queria ir com ele
porque tinha vergonha e ele, por seu turno, não queria falar com Natasha e
Gigio. Ou seja, teríamos mais uma missão aquele dia: encontrar uma farmácia e
tentar comprar algum remédio para aquele probleminha traseiro. Disse a ele para
não se preocupar que aquilo ocorria de vez em quando e que, se Deus fosse muito
bom conosco, conseguiríamos a tal pomadinha.
Passei uma
mensagem para a médica que queria chamar de minha (ao menos nos meu sonhos,
claro!) com a esperança de que a vivo, a oi, ou a claro de Brasília decodificassem
o sinal moscovita e não entendessem como uma ameaça ao território brasileiro e
permitisse que chegasse ao celular correto. Por que já imaginou se caísse no
celular errado a seguinte mensagem (pense: eu tinha apenas 250 caracteres a
€5,01 a mensagem. Tinha que ser claro e objetivo): Tô precisando de um remédio
pro c*. A coisa aqui tá mesmo russa. Qual você sugere? Esperava mesmo que a
médica brasiliense não tivesse um celular do tipo Pai de Santo, já que nem o
Pai Siba poderia ajudar naquele momento de dor e desespero de Mick.
Fomos então para
a cozinha e Mick tomou o seu mingau com abóbora em pé mesmo e pedimos a
indicação a Sergey de uma farmácia mais próxima. Ele nos disse, mas insistiu em
ir conosco e principalmente queria saber o que queríamos comprar. Eu ia dizer,
claro, mas Mick, roceirão do jeito que era, preferiu que não dissesse nada. Sue
ficou no canto da mesa, rindo, imaginando como solucionaríamos aquele “causo”
russo.
Parti com Mick
para a farmácia indicada, mas não a econtramos. Segui então para a rua paralela
e lá havia uma farmácia bem grande, mas só com um funcionário apenas. Um
grandalhão de óculos escuros.
Chegando lá e também pra dar aquela quebrada no
ambiente fui falando as palavrinhas mágicas que aprendera no dia anterior: Shii….só
com o Pai Siba. O grandalhão russo, com óculos escuros, esboçou um sorriso
maroto pra Mick o qual quase voltou-se para a rua. Corri e disse pra ele: cara,
ou você encara o grandalhão com o Pai Siba ou tu não vais aguentar de dor até o
fim da viagem. Nessa hora, a mensagem da médica candanga chega com a indicação
correta do remédio, mas acho que naquele momento saber nome científico seria
uma missão que só Deus encarnado poderia dar conta. O desafio então seria traduzir
pro inglês. Perguntei ao grandalhão: do you speak english? Ele balançou com a
cabeça dizendo que não. Daí eu disse novamente: shiii, só com o Pai Siba. Ele
voltou a sorrir com graça para Mick. Daí em pensei em como falar aquilo num tom
menos desesperador e imaginei-me num jogo de imagem e ação. E as palavras
secretas para a situação eram: remédio para hemorróidas. Pronto. Como falaria remédio? Daí eu fiz lá
um gesto tipo dando dinheiro e apontei para vários remédios. Dinheiro e vários
remédios. O grandalhão parece ter entendido. Fiz aquele gesto de quebrar a
palavra. Acho que ele também já deveria ter jogado imagem e ação e também
parecia ter entendido. Ele disse: dah, dah, dah. Eu disse: não, não, não agora
eu não vou dar nada não. Se alguém tem que dar aqui é o rapaz ali, referindo-me
a Mick. O grandalhão balançou com a cabeça dizendo que havia entendido. Pronto.
Primeira palavra entendida, mas e a segunda, hemorroidas, como eu ia fazer
aquilo em russo? Pensei, pensei, pensei e achei que aquela posição que vi Mick
e Sue um pouco mais cedo seria a perfeita para o grandalhão russo farmacêutico
e de óculos escuros entender. Disse a Mick o que havia se passado e propus a
ele ficar na posição que estava logo pela manhã na frente de Sue. Mick
saltou-me ao pescoço como se tivesse falado do cavalo da fazenda dele ou
talvez, até da mulher dele. Desvencilhei-me e expliquei que aquele era o único
jeito do grandalhão entender. Depois de muito custo e palavras impublicáveis,
Mick aceitou a condição e ficou na posição de Kama Sutra ao contrário. Disse
então as palavras mágicas e o grandalhão falou: dah, dah, dah. Fiquei meio
assustado com o modo como ele falou aquilo, mas depois eu apontei para a região
do buraco negro de Mick e fiz uma cara de choro. O grandalhão sorriu novamente.
Parecia que havia compreendido o que se passava com o Mick e seguiu farmácia
adentro. Ficou lá uns 15 minutos. Só ouvíamos caixa caindo, poeira subindo. Quando
finalmente o grandalhão aparece, vem-me com uma caixa de pomada e também com uma
ponta bem grossa de plástico que mais parecia um pênis africano kid bengala.
Mick achou aquilo engraçado (eu achei estranho, mas por vias das dúvidas, Mick
era casado com Sue). O grandalhão trouxe consigo uma máquina calculadora com
uns números digitados. Presumi que fosse o preço da “consulta” farmacêutica (na
Rússia, isso é muito comum, já que o camarada sabe que você não vai entender os
números que ele disser, então ele digita os números na calculadora). Pagamos e
seguimos dali tão rápido quanto pudemos.
Chegamos a casa
de Gigio e Natasha e todos ali estavam preocupados conosco. Mick pegou nos
braços de Sue e os dois correram para o quarto. Eu (aquele que estava
assistindo a tudo isso de camarote, pensei ainda em seguir com o casal para ver
o que se passaria ali, mas preferi nem imaginar e ficar com Rogério, Natasha e
Gigio na cozinha). Natasha sugeriu, dado o horário avançado, que seguíssemos
para o mercado onde poderíamos ver algumas coisas mais naturais e um pouco da
vida russa de verdade. Aceitei a proposta porque efetivamente queria conhecer
um pouco daquela condição de BRICS de que todos os jornais brasileiros falam.
Queria saber se o Brasil estaria mesmo nas mesmas condições que as da Rússia.
Gigio ficou em
casa com Mick que parece ter ficado já no quarto, meio que prostrado na cama.
Perguntei a Sue se tudo estava bem com Mick e ela sorriu e disse que ficaria em
pouquíssimo tempo. Seguimos então, eu, Natasha e Sue para o mercado. Foi bem
interessante a experiência de ver como o mercado russo se parecia com umas
feiras livres que vimos há alguns anos em Brasília. Aliás, a infra-estrutura do
bairro e da própria feira eram muito parecidas com Brasília. Frutas, verduras,
peixe, carne, tudo vendido em barracas pequenas e com vendedores prestativos
ofertando um pouco do seu produto para degustação do cliente. Felizmente nesse
ponto, parecia que os russos ainda não conheciam os verdurões com seus
varejos-atacadistas que já tomaram conta desse tipo de mercado no Brasil.
Voltamos pra casa
perto das 5h da tarde. Natasha preparou-nos uma refeição mais vegetariana com
muita castanha, azeitona kalamata (grega), melão, alface, pão sírio, enfim,
coisa bem light. Olhei pra Sue e Mick e perguntei se aquilo tinha alguma
ligação com o probleminha de Mick. Sue riu-se e disse que não.
Natasha então nos
convidou para darmos uma volta no centro da cidade, mais especificamente para
conhecermos a Ulitsa Arbat e também a Catedral de Cristo Salvador e no meio do
caminho conhecermos algumas das estações mais interessantes do metro moscovita.
Gigio disse que, como era sábado à noite, podíamos também jantar num
restaurante que depois fechava e virava discoteca.
Preparamo-nos o
mais rápido que pudemos e partimos para nossa segunda aventura nas linhas
chacoalhantes do metro moscovita. Mick parecia que não havia melhorado, já que
em todo o percurso esteve sempre em pé, embora os lugares preferenciais sejam
dos mais velhos e também das mulheres (isso realmente é impressionante como os
homens ofertam mesmo seus lugares a essas pessoas). A primeira estação das propostas
foi a Komsomolskaya (linha
marrom com a linha vermelha). A estação é sem duvida alguma a mais
bonita e impressionante de Moscou, e não foi a toa logo que saímos do vagão e já
observamos outros turistões fotografando e babando enquanto alguns russos iam e
voltavam de seus afazeres. Tentei emplacar um “Pai Siba” com algumas russas,
mas acho que no sábado à noite àquela hora elas já deviam ter esquema armado.
Eficiência zero. Natasha ficou ainda curiosa por saber o que eu estava tentando
fazer, mas fiquei envergonhado de dizer o que se passava. Partimos então para a
segunda estação: Novoslobodskaya (linha
marrom com a cinza). Essa estação se destaca das demais por causa de
seus 32 painéis de vidro colorido. Por fim a terceira foi a Mayakovskaya (linha verde, uma depois da
instersecção da marrom com a verde). A última da lista, mas não menos
bonita e impressionante, é toda no estilo Art Deco e considerada o melhor
exemplo de arquitetura Stalinista prá-guerra. Confesso que do jeito que
as pessoas me diziam sobre essas estações eu esperava bem mais. Acho que apenas
em sonho as coisas não são lá tão bonitas assim. De repente, quando eu for lá
de verdade possa dizer coisas mais específicas …eheheh
A ulitsa (rua em russo) Arbat foi outra decepção. Não havia
nada de especial na rua. O comércio relativamente turistão não tem qualquer
atração. Preferi mesmo o mercadão da manhã e claro, o GUM. O barato mesmo foi ter visto a igreja. Aquilo
ali era mesmo supremo. Além de ter uma história super curiosa é uma igreja
enorme. Claro que não entramos por causa do horário, mas a ponte que há por
trás dela permitiu umas fotos lindas, lindas. Mick, claro, com sua máquina e
seus ângulos inusitados bateu várias. Sue, por sua vez, também tirou várias fotos
da Outubro Vermelho (uma boite da alta sociedade russa próxima ao rio, coisa
bonita mesmo). O vento e a garoa que batiam não permitiram que seguíssemos até
o outro lado da ponte. Retornamos então para Arbat e seguimos para o
restaurante. Mesmo como apenas espectador daquele quinteto, confesso que também
fiquei bastante impressionado com as luzes e as cores que Moscou oferta. Dali
conseguimos apreciar a Praça Vermelha, o Kremlin e outras partes muito bonitas
da cidade.
Chegaram ao restaurante caminhando mesmo. Um restaurante
muito aconchegante, moderno e com preços relativamente razoáveis. Mick fez que
não ia sentar, mas Sue insistiu pra ele fazê-lo logo e esquecer do seu problema
negro. Sentamos todos em um canto bem aconchegante do restaurante, o que permitiu
a Mick sentar tranquilamente. Dali podíamos ver todo o movimento do
restaurante, inclusive de quando fecharam para a pista de dança. Os moscovitas
têm um jeito muito europeu de agir na pista de dança. Balança, balança, olha,
olha, mas nunca chega em ninguém. Que droga era aquela? Nem com o Pai Siba será
que rolava um beijinho na pista? Não quis arriscar um Pai Siba à brasileira
porque se levasse um fora, todo mundo ali me veria (a mesa que estavam o
quinteto tinha uma vista privilegiada da pista de dança).
À saída da boite, Natasha e Gigio diziam algumas coisas para
os taxistas e parecia dispensar todos eles. Natasha saiu à frente e tentava
negociar os valores até que passa um carro totalmente descaracterizado e ela
nos grita para entrar. Pensei que se tratava de um amigo do casal, mas nada,
era um táxi mesmo. Então, se você um dia for a Moscou, o lance é estender a mão
na rua. Se parar um carro particular, pode entrar, sem qualquer problema,
aquilo é um táxi também. A única coisa será mesmo se comunicar com o motorista.
O lance é dizer logo um Pai Siba e mostra o endereço. Pronto, pronto. Ah, fique
bem calado também e nem mostre que você tem dinheiro também. Uma corrida que
podia custar 400 rublos pode subir pra 800 tranquilamente. A corrida de táxi foi
muito legal. Passamos por ruas largas, pela Praça Vermelha, por alguns pontos
bem legais.
No dia seguinte acordamos cedo e partimos novamente para a
terceira aventura nas linhas moscovitas. Dessa vez sem Natasha e Gigio. Eles
disseram que haviam bebido um pouco mais e precisavam de ficar em casa.
Partimos, como planejado, para conhecermos o interior do Kremlin. No trajeto
Mick já conseguiu sentar tranquilamente nos bancos vazios (era um domingo), o
que parecia que o kit do russão estava mesmo funcionando.
Chegamos à Praça Vermelha para entrarmos no mausoléu do Lênin,
mas aquilo estava mais fechado que a caixa de Pandora do Lula e seu mensalão.
Seguimos para o Kremlin. Aquilo também é uma confusão só. Horário para entrar,
horário para sair, informações incompletas, gente que não fala inglês direito.
Sue entrou na fila para comprar o ticket e eu e Mick fomos ao banheiro
subterrâneo que havia ali. Jesus Cristo! Que cheiro ruim era aquele. E pronto,
não era só o cheiro. Era mesmo a infra que o banheiro não tinha. Imagina: não
havia baias para usar as sanitas. Jesus Cristo! Rogério sempre teve horário de
ir ao banheiro (quem viajou comigo as duas vezes pra Natal sabe do que estou
falando …eheheheh) e como não tinha ido logo no início da manhã, teria que
fazer ali no estilo mais indian way possível. O fox mesmo não era realizar a ação
em si, mas principalmente como tirar aqueles 10kg de roupa de frio, sem
qualquer lugar para pendurar e outra, em tempo recorde, porque quem limpava o
banheiro não era um russão, mas uma russona. Sim, meus caros, lá em Moscou e em
qualquer lugar dessa Europa, banheiro masculino é sempre limpo por uma mulher.
Imagina. Estás tu lá dando aquela mijadinha gostosa e de repente aparece aquela
gordinha pra limpar o mictório do lado. Sem qualquer constrangimento, a mulher
pega (no pano, claro!! ehehhe), limpa, verifica todas as baias e tals e fica
nesse entra e saí constante. Putz. É muito louco isso. Ou seja, naquela situação
específica do indian way of life eu
estava refém total da mulher do banheiro, mas principalmente porque a porra do
papel higiênico ficava do lado oposto aos das sanitas. Ou seja, além de todos
os detalhes relatados ainda tinha que me denunciar quando fosse do outro lado
banheiro pegar o papel higiênico (gente do céu, será que isso era alguma coisa
comunista, fascista, stalinista contra o bem-estar do ser humano??????????) Enfim,
detalhes dessa situação RS (rápida e segura) só mesmo em outra encarnação
agora. Pronto, Mick viu toda aquela
situação e foi mesmo à forra pela situação da farmácia. Mas, ok.
Missão cumprida, subimos e já encontramos Sue com os tickets
na mão e já nos indicando que só conheceríamos o Armory Chamber e que as igrejas são fechadas aos finais de semana
para visitas individuais. Achei uma droga aquilo, mas pronto, estávamos pelo
menos entrando no Kremlin que é a sede do governo russo. Queria ter visto o
Putin, mas acho que realmente não rolaria nunca. Ainda tentei falar um Pai
Siba, BRAZIL, Lula, futebol, Pelé, carrrrnaval, Ronaldinho ….com o guarda, mas
não teve jeito.
Nessa aventura do Kremlin, a única coisa que prestou mesmo
foi ter encontrado na fila um grupo de uns 20 senhores e senhoras brasileiros. Aliás,
brasileiro você encontra em todo lugar. Até na Rússia. Aquela turminha em
especial era daquela gente que já não tem nada pra fazer na vida senão viajar
pelo mundo. Gente já vivida e com uma boa grana no bolso. Putz, quero ser um velhinho
daquele jeito. E quando Rogério falou que morava em Portugal então, aí é que os
velhinhos começaram a curtir com os portugueses. Os quase cinqüenta minutos na
fila passaram bem rapidinho. Muito riso e muita conversa, como qualquer
encontro entre brasileiros.
Entramos no Kremlin, vimos lá o Armory Chamber, o qual é bem chinfrin e seguimos para o Bolshoi
para ver se havia ingressos para aquela noite. Infelizmente não conseguimos
nada. Como era ainda perto das 7h da noite recebemos um SMS de Sergey e Natasha
dizendo para nos encontrarmos em um restaurante próximo dali em 90 minutos.
Não era qualquer restaurante. Este restaurante ficava na
torre mais alta da Europa. Fica no 62º andar, bem no último andar. Coisa de
louco mesmo eram as duas Ferraris e o Aston Martin que estavam parados à porta
exclusiva na base do prédio que conduzia ao restaurante. Lá de cima, tínhamos uma
vista 360º para qualquer parte da capital. Mas a coisa de louco mesmo eram os
preços ali praticados. Se você acha que já foi em um restaurante caro, pense
que o Sixty é ainda um pouco mais. Tudo
ali era pra feito para te impressionar, até as meninas que te conduziam à mesa.
Meu Deus. Tudo, tudo em altíssimo estilo. O baque, contudo, mesmo nem foi a
conta, mas sim ter que voltar de metro para casa. Que contraste era aquele?? Parece
sina mesmo de pobre, nem em sonho, mesmo estando em um restaurante daqueles,
consegui voltar pra casa em estilo compatível. Tudo bem, mas cá pra nós, achei
melhor. Se Gigio tivesse ido com seu Lada enferrujado nem eu teria coragem de
pagar o mico de entrar naquela lata velha sem paleta no pára-brisas à saída
daquele restaurante movimentado, principalmente porque estava meio chovendo e o
camarada teria que parar sua caranga bem à saída do restaurante. Não ia dar!
Chegamos a casa e fomos logo tratando de dormir, pois dali a
algumas horas seguiríamos para São Petersburgo. As malas já estavam prontas.
Sugeri a Sue e Mick que acordássemos às 6h45, dadas as condições adversas de
temperatura e pressão (CNTP só mesmo em Lisboa …ehehe), sobretudo do
metro. Ok. Ok.
Noite seguia muito tranqüila até que Mick solta um gritinho
seco e sôfrego (eheheh). Pensei que era Sue aplicando o kit bengala do russão
da farmácia, mas não era disso. Mick lembrou-se que havia deixado o passaporte
no restaurante. Isso tinha ocorrido quando perguntou se ali eles forneciam “Tax
Free” (para quem não se lembra é o estorno dos impostos pagos no país no cartão
de crédito). A anta, com sua permissão caro leitor, deu o passaporte para o
garçom, mas só que não pegou de volta. E agora? Tínhamos que estar no aeroporto
às 9h45 para seguirmos, com passaportes na mão, claro! Sue ficou desesperada
porque não sabia sequer onde era o consulado australiano ou ainda uma delegacia
aberta às 4h00 da manhã. Mick ficou tão desesperado que bateu à porta de
Natasha e Gigio e explicou a situação. Gigio ficou também desesperado com o fato.
A situação era a seguinte: ou perdia o vôo para São Petersburgo, dado que o
restaurante só abriria no final da tarde do dia seguinte (segunda-feira o restaurante era
fechado) ou seguia para a polícia e pegava alguma autorização para viajar
(Gigio pegaria o passaporte depois e mandaria por correio para São
Petersburgo). Decidiram então por seguir pela autorização. Gigio arrumou-se e
seguiu com Sue e Mick para a delegacia. Até eu (dorminhoco induzido) quis
seguir com os três para ver como a anta do Mick se sairia, mas estava muito
mais frio lá fora (não sei o que acontecia, mas a gente dormia com o aquecedor
ligado e no meio da noite algum fdp ia lá e o desligava e eu passava o maior
frio no quarto). Preferia dar meu apoio a mim mesmo ali no colchão inflável e
no quarto também frio.
O trio seguiu e fui dormir. Dali a algumas horas meu
despertador tocou. Eram 6h45. Não vi nem Sue ou Mick. Levantei-me, fui tomar
banho e bati à porta de Natasha por informações dos três. Ela me disse que
também não tinha notícias até o momento. Ela me aconselhou então a tomar seu mingau
com abóbora e seguir para a estação Kievskaya de onde pegaria o Aeroexpress
para o Vnukovo. Sentei à mesa e passei um SMS para Sue. Peguei também meus
papeis para checar o horário do vôo e percebi que eu também estava ferrado. O
horário do vôo não era 11h45, mas sim 11h00. PQP. Para isso teria que pegar o
Aeroexpress das 8h (esse trem só passa de hora em hora) e isso já eram 7h20.
Como Natasha não tinha carro e da estação da casa deles até Kievskaya era pelo
menos 60 minutos, já tinha perdido o trem pras 11 (desculpe-me o sambinha
paulista …mas eu não tinha dinheiro para perder aquele vôo). Saí no frio doido,
meio chovendo, correndo para a estação. Tinha que fazer uma baldeação apenas (mas
imagina fazer baldeação na Sé às 7h40 da manhã e duas vezes pior e com mala e
mochila a tira colo…ahh e detalhe, só a subida ou descida nas escadas rolantes
das estações russas podem durar 2min a
3min). Segui na fé e na correria também.
Cheguei à estação próxima do ap dois quartos-cozinha-banheiro onde estava às 7h38.
Com muita, muita sorte, seguiria por sete estações (com uma baldeação) e
conseguiria pegar o Aeroexpress. Desci correndo, batendo nas pessoas e dizendo
sempre um Pai Siba para as pessoas (aliás, quando perguntei a Natasha o que aquilo
significava ela começou a rir e eu ainda mais quando soube da sua
tradução..ehehe). Ainda bem que em todas as estações os trens passam de três em
três minutos. Ao menos isso Stalin deixou de bom para a capital moscovita: um
sistema rápido de metro. Ok. Quando cheguei à baldeação e vi aquela multidão
indo e vindo (imagina segunda-feira pela manhã, logo no horário de pico) pensei
em fazer como Mick Dundee no final do filme que contava sua história com Sue:
ir andando por cima das pessoas. Mas como eu só sabia falar Pai Siba e os
policiais russões (você sempre verá policiais nas estações, sempre) pareciam
mais corruptos que os PMs cariocas, resolvi apelar para a fé mesmo. Saí
correndo, orando alto e gritando Pai Siba, Pai Siba, Pai Siba. De vez em quando
uma russa linda ainda me sorria, mas o que via mesmo eram russonas e russões de
cara feia pra mim. Corri. Corri e corri mais um pouco e joguei, na estação da
baldeação, no bicho a direção do trem que deveria pegar. Ufa. Ainda bem que
parecia ser a correta. Da estação Dobryninskaya até a Kievskaya eram mais duas
estações. E já eram 7h54. Será que ia conseguir? Meu Deus ……Pai Siba, Pai Siba,
Pai Siba.
Ok. Cheguei à
estação Kievskaya e subi correndo as escadas sem saber sequer se era a correta.
Quando cheguei à saída não havia qualquer indicação do Aeroexpress. Estava
mesmo ferrado. Atrasado, com frio, sem saber entender a droga do russo até que
vi duas russas jovens conversando e perguntei a elas em inglês onde poderia
pegar o trem. As duas falavam inglês (o que interpretei como um milagre divino
e um sinal de que ainda conseguiria pegar o trem). Mas só tinha um detalhe:
nenhuma delas sabia onde ficava a estação do Aeroexpress. PQP!! Não era
possível!!!! Daí uma delas perguntou para outra russa, dessa vez uma linda,
linda, de olhos azuis, pele branquinha. E o melhor ainda falava inglês também.
Ai meu Deus se não tivesse com pressa diria logo um Pai Siba a ela e a
convidaria para um café. Mas ok. Não tinha tempo para isso. Essa terceira russa
era mesmo um presente divino. Além de bonita, de falar inglês, sabia onde ficava
a estação!!! Dispôs-se, então, a subir as escadas comigo e me mostrar a
estação. Meu Deus. Mulher bonita, sorridente, inteligente e simpática (ahh …e
magrinha também..eheh)?????? Isso é só na Rússia mesmo.
Quando cheguei a
estação do Aeroexpress era infelizmente 8h17. O trem das 8h00 já havia
evidentemente partido (aquilo ali não era Brasil, horários sempre são cumpridos
ali!). Comprei então o ticket para o trem das 9h00. Ficaria ali no hall orando
pro check-in no Vnukovo se atrasar e lembrando da russa que acabara de me
ajudar. Eram as únicas coisas que me restavam. Tive a ideia de pedir, por SMS,
a Natasha e a Gigio de fazerem o check-in para mim pela internet. Assim, só
chegaria, pegaria o boarding pass e despacharia a mala. Contudo, alguns minutos
depois ela me responde que não conseguira fazer. Ok. Ok.
9h00. Entrei
finalmente no trem. Super aflito por chegar logo ao aeroporto, mas só que ao
sentar-me, recebi duas mensagens, uma de Sue e outra de Gigio. Quando abri as
mensagens. Meu DEEEUUUSSS!!!!!!!!!!!!!!!! Não era possível …………………………..
Muito bom querido!!! Me senti ao seu lado vivendo td essa história...os seus textos me transportam p sua imahinação e parece que vivo tudinho q vc conta rsrsrs E sua veia cómica voltou....parabéns!!!!! Tô curiosa p ler a parte 2 e saber o que é afinal "Pai Siba"... e sobre os russos??? Vc n falou nada sobre isso.....bjinhus
ResponderExcluirMuito bom querido!!! Me senti ao seu lado vivendo td essa história...os seus textos me transportam p sua imahinação e parece que vivo tudinho q vc conta rsrsrs E sua veia cómica voltou....parabéns!!!!! Tô curiosa p ler a parte 2 e saber o que é afinal "Pai Siba"... e sobre os russos??? Vc n falou nada sobre isso.....bjinhus
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