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Freud III: o fim de uma saga!

      Caros leitores, a ausência de novos posts neste espaço democrático deve-se a uma restrição imposta pelo governo brasileiro em razão de um projeto ultra-secreto revelado por mim neste humilde blog. A vida de Freud em 2010 nunca poderia ter saído do ambiente da ABIN e nem da CIA norte americana, já que se trata de um experimento avançadíssimo cujo objetivo é trazer à vida alguns dos gênios da História recente.

        Fui orientado a não publicar nada durante as eleições no Brasil e mesmo depois desse período os agentes me fizeram comprometer-me a não colocar nada que sugerisse subversão política ou ideológica.

       Portanto, caros leitores, não poderei postar tudo o que sei, muito menos os seus detalhes. Digo, contudo, que subverterei as palavras na busca do prazer de informar e ter cada vez mais leitores e seguidores no Orkut, facebook, twitter e outras redes sociais ...eheheh



       No capítulo anterior, Freud terminara de receber o último ingresso para uma apresentação retumbante de Renato Borgheti no Teatro SESC Paulista. Certamente não tinha a menor ideia de quem fosse Renato, mas por sua curiosidade natural e por sua mania quase histérica de colocar em xeque as emoções humanas, resolveu entrar e conferir o show. Disse que não sentiu culpa, afinal o rapaz o convidara a assumir a posição à sua frente, o que o fez totalmente responsável por aquela barbárie cultural de perder o ingresso daquele show gratuito.

      Até esse momento, a vida de Freud parecia uma crônica de C.S. Lewis, mas as semelhanças param por aí. O que se passou depois desse dia na paulicéia desvairada parecia estar destinado a voltar ao nebuloso inconsciente da História, todavia pelo amor a meus leitores (e claro, a gana de um dia ser indicado a um Jabuti ou a um Pulitzer), acionei uma verdadeira rede de contatos underground para descobrir o que se passou depois desse dia, já que o mesmo Freud parecia querer-me esconder tais fatos na conversa que tive com ele no interior paranaense. Utilizei o anonimato e até mesmo aquelas mudanças de voz que vemos na TV para obter boas informações e contra-informações de como Freud foi parar no interior do Brasil.

       O dossiê ultra-secreto por mim obtido com um ex-agente do DOPS dizia que Freud naquele dia saiu do teatro e se dirigiu rapidamente a um restaurante japonês da região. Encontrou-se com uma jovem morena, onde permaneceu por quase 2 horas em conversas e risos. O dossiê relata ainda que Freud chegou desacompanhado ao hotel por volta de 2h25 da manhã.

        Como se tratava de uma possível ameaça às estruturas sócio-psicológicas da cultura nacional, o governo montou uma verdadeira operação para rastrear os passos daquele austríaco em solo tupiniquim. Em parceria com o CSI do Departamento de Polícia de Las Vegas (Nevada – EUA), a equipe descobriu que Freud comprara dois dias antes de sua chegada a São Paulo uma passagem para Curitiba. Não se descobriu, contudo, a razão para aquela conexão, já que as evidências apontavam para alguma cidade de fronteira do sul do país.

         Como não poderiam perder qualquer passo do suspeito, uma agente da ABIN, gaúcha e filha de alemão com uma negra carioca, foi destacada para sentar-se a seu lado no voo para Curitiba. Segundo relatos da própria agente, o voo durou três horas em razão da forte chuva na capital paranaense, mas por conta daquela conversa “investigativa”, não pareceu mais que 10 minutos (acho que o ditado “nem Freud sabe o que se passa na cabeça das mulheres” é uma grande mentira!!!). Nesse interregno, a agente identificou vários pontos ainda obscuros naquela operação internacional. A passagem de Freud pela cidade se devia a uma apresentação em um congresso sobre Sustentabilidade e dali a três dias partiria finalmente para seu destino final, onde já o aguardavam. Ao que parecia o suspeito tinha encontro marcado com um professor de psicologia e aproveitaria a estada para conhecer a cidade, famosa por sua qualidade de vida.

       O primeiro dia na capital paranaense não poderia ser diferente chuva, frio e calor. Freud acordou logo cedo, tomou café e se dirigiu ao local do evento. No caminho, disse ao agente disfarçado de taxista que nunca vira uma cidade brasileira tão limpa como aquela. Era de impressionar. O taxista (natural de Curitiba) ressaltou que a cultura dali era de não sujar a cidade e os que a desrespeitavam, provavelmente não seriam dali. Prova disso eram as ruas, as paredes dos prédios igualmente limpos e pintados, sem pichações.

       A manhã no evento foi bastante normal, mas na hora do almoço, Freud parece ter tido um repente saudosista de sua terra. Segundo relatos do dossiê, nosso amigo andava com bastante parcimônia contemplando a beleza da decoração de alguns prédios. A atmosfera curitibana o fez parar por vários momentos e ficar estatelado em contemplação. Os que não conheciam sua genialidade poderiam supor que se tratava de alguém com problemas mentais, tamanha sua compenetração, já que falava e gesticulava sozinho pelas ruas. Depois do almoço e do repente saudosista, Freud efetivamente mostrou porque fora considerado uma das maiores mentes do século. Discursou por quase duas horas sobre as relações entre cultura, psicanálise pós-moderna e desenvolvimento social e sustentável no contexto europeu. Os agentes americanos e brasileiros disfarçados no meio da plateia tentaram diminuir o frisson criado por sua apresentação, mas era quase impossível conter todas aquelas pessoas fascinadas por seu discurso.

        Tudo estava a correr bem não fosse um longo telefonema recebido por Freud logo após a apresentação. Risos e gritos foram observados na fala do guru ao telefone. Os agentes correram então para o forgão parado no estacionamento da faculdade a fim de rastrearem o que era ali dito, mas só conseguiram escutar um “Auf Wiederhören”. Ligaram então para os parceiros do Mossad, mas já tinham desligado o satélite e estavam refestalando-se com uma massa italiana no Madalosso (no bairro Santa Felicidade), pouco poderiam ajudar. Talvez fosse a hora dos mariners americanos descerem de helicóptero na faculdade e sequestrarem nosso guru que ainda estava ao telefone, mas a operação foi abortada pelo representante do serviço secreto norte-americano. Decidiram então por uma abordagem mais próxima e menos violenta até o fim daquela estadia.

       Nada percebendo da operação secreta que fora montada, Freud resolveu que seria uma boa conhecer o sistema de transporte da cidade. Os tubos de embarque e desembarque não tinham lá grande charme, mas o que realmente chamou a atenção do guru foi a organização das pessoas. Ali são formadas voluntariamente duas filas indianas e ordenadas para a entrada nos ônibus. Isso realmente não tinha sido observado em nenhuma outra cidade brasileira. Tinha até ares estrangeiros, mas depois de alguns poucos minutos no ônibus percebeu que ainda estava em um país em desenvolvimento e que os ares europeus ficava apenas nas asas da imaginação. De tão lotado que estava o ônibus não conseguiu descer na estação que queria, mas apenas na próxima e, por isso, teve que caminhar pelo menos 2 km até chegar a seu hotel.

      Parecia que a noite seria inteiramente dedicada ao descanso e às reflexões, mas às 23h17, segundo informações dos agentes da agência brasileira, Freud recebeu outra ligação. Comunicaram-se em uma língua desconhecida. Os únicos que poderiam saber o que falavam eram os dois agentes da Mossad, mas estes estavam dormindo em razão da quantidade de comida que haviam ingerido no almoço no Madalosso. Os mariners ainda tentaram bater à porta do quarto para efetuarem a tradução, mas aqueles agentes estavam mesmo em um sono profundo. Após a ligação, Freud desceu rápido e na mesma velocidade partiu num táxi. O dossiê não deixa claro para onde foi, mas pelas descrições, nosso guru foi então observado num ponto de encontro da juventude curitibana na presença de algumas nativas ensaiando alguns passos de sertanejo, ritmo muito bem aceito naquelas regiões paranaenses. A volta para o hotel, segundo o dossiê, foi bem normal.

     Já passava das 9h30 quando Freud se levantou e decidiu que não iria para o congresso. As discussões estavam fracas e pouco poderia ser aproveitado dali. Almoçaria então com o professor amigo e depois seguiria para os maravilhosos parques da região. Seguiu à risca o planejamento. Apanhou o professor no magnífico prédio da Universidade Federal no centro da cidade e seguiu para o restaurante italiano de sua preferência no Batel. Conversaram sobre vários assuntos, inclusive sobre a extração da bauxita no Quênia e seus reflexos na produção de aviões (eheheh). Os agentes do Mossad os acompanharam de perto (mesa ao lado) e os do FBI de longe, no forgão estacionado na praça.

      Depois então de ter deixado o professor de volta na universidade seguiu para o parque Tanguá a fim de conhecer aquela famosa cachoeira e depois para o Tingui. Nesse último, Freud desceu por volta das 17h34. Caminhou devagar, observou o movimento das pessoas, respirou o ar fresco que a chuva de pouco tempo antes proporcionava, tentou tocar as pacas que ali havia, observou as árvores que formava o caminho para os corredores de plantão. Aquele ambiente parecia o de outros parques, talvez o Prater de Viena ou o Englisch Garten de Munique. Saudade de um tempo que não mais poderia voltar. Agora em terras tupiniquins, a vida seguiria outros rumos. Parecia estar perdido no tempo e no espaço, e o fato de estar muito próximo de escurecer, o agente destacado para acompanhar Freud resolver dar uma “ajudinha” fazendo-o voltar todo aquele caminho antes de efetivamente escurecer.

        A  noite chegou e Freud com seu GPS também conseguiu chegar ao hotelzinho no centro da cidade. Pediu para que fosse levado em seu quarto uma lasanha e um vinho. Tudo indicava companhia para a noite, mas logo que a entrega chegou não se ouviu mais nada. Os mariners aproveitaram a ausência de movimento para atualizarem o relatório que compôs o dossiê da operação. O pessoal do FBI tentou conexão com o Washington, mas a internet do hotel era péssima e caía toda hora.

       Depois de algumas horas no quarto, Freud passou pelo saguão do hotel. Parecia que novamente se refestelaria com as boas opções da noite curitibana. Segundo os relatos dos agentes, Freud nada parecia de culto quando entrou, sentou-se à mesa, puxou conversa e passou a se divertir ao som de Beatles, Dire Straits, Rolling Stones etc. Parecia mesmo que os ares curitibanos lhe faziam muito bem. Além disso, o superego parecia mesmo ser diluível em álcool.

         O dia seguinte Freud levantou-se novamente às 9h30, já que às 10h o café se encerrava. Parecia meio passado das ideias. Pegou o carro e rumou para um prédio novo no centro da cidade. Subiu até o 16º andar e entrou numa sala em que se lia as seguintes iniciais: T.W.V.S. Pouco mais de uma hora e meia depois Freud saiu com uma pasta 007 preta. Os agentes ainda tentaram verificar o conteúdo da pasta, mas não foi possível. Nosso guru desceu diretamente para a garagem.

          Parecia mesmo que os parques encantavam Freud. Logo em seguida partiu para o maior da cidade: o Barigui. Parou o carro, e como no dia anterior foi andando devagar, observando o lago, a biblioteca que há ali, as casas que ficam praticamente dentro do parque, as pessoas ouvindo os seus ipods, as crianças chorando, as árvores balançando. Para esse dia, a agente destacada foi a gaúcha que lhe acompanhara no vôo até a cidade. Logo que a reconheceu, iniciou uma longa e boa conversa. A despeito de tentar sublimar aquela nostalgia, a conversa estabelecida girou em torno de dois pontos: a falta que fazia alguém naquela cidade tão romântica e ainda que o que estragava Curitiba era mesmo os curitibanos. A gaúcha até riu, mas quis saber o porquê da última afirmação, ao que Freud respondeu: “sim, só os curitibanos é que estragam a cidade, porque as curitibanas tornam a cidade ainda mais linda e atraente”. Como passava do meio-dia Freud convidou a bela agente para almoçarem juntos, ao que ela denegou prontamente.

          Resolveu então seguir seu caminho sozinho. Deliciou-se em um dos melhores restaurantes da cidade. Carne argentina e vinho francês caem muito bem para qualquer solidão. Como não tinha ninguém com quem conversar, saldou a conta rapidamente e saiu em direção ao Jardim Botânico. Dirigiu-se à estufa como se tivesse que cumprir um ritual de passagem (eeheheh) e logo saiu em direção à faculdade no centro onde o seminário ainda se desenrolava. Segundo o dossiê ABIN/CSI, ficou por lá até às 17h46.

       No caminho de volta para o hotel passou num shopping para jantar. Foi caminhando e observando o movimento da cidade, das pessoas, o cheiro daquele lugar, o trânsito da cidade e ainda os últimos comerciantes fechando suas lojas. Aquilo era uma nuvem de estímulos, misturada a lembranças e planos para o futuro.

       Aquela última noite deveria servir para descansar, afinal, segundo a agente gaúcha, Freud partiria para o interior no dia seguinte. Tentou descobrir para onde iria, mas parece que o guru já estava desconfiado de tanto interesse daquela bela jovem. Talvez a pasta 007 pudesse dar alguma pista de tanta agitação no quarto de Freud. Todavia, no início da madrugada um carro preto buscou o guru e começou uma boa perseguição pela cidade, segundo os agentes. Pareceu que não tinham rumo. O carro preto ziguezagueou a cidade por algum tempo e acabou parando num ponto de encontro de jovens da cidade. Desta vez, contudo, os agentes ficaram observando Freud e seus amigos à distância. Não consegui relatos mais objetivos de onde era e nem o que se passou com o guru em sua última noite em terras curitibanas, mas seu estado de cansaço indicava uma noite fora dos padrões psicanalíticos.

        A única coisa que se tem certeza é que no dia seguinte, o mesmo carro preto o buscou logo cedo no hotel. Freud tinha pouca bagagem, mas não se desgrudou em nenhum momento de sua 007. Os agentes ainda tentaram interceptar o carro com o auxílio de um helicóptero Black Hawk dos mariners americanos, mas o céu curitibano cheio de neblina não permitiu. Ao chegar ao aeroporto, o carro seguiu rapidamente para um hangar onde um jato Legacy esperava por dois passageiros. A primeira pessoa subiu no avião olhou para trás e sorriu largamente para Freud que veio logo atrás. O avião então partiu e rasgou os céus com os dois passageiros.

       Infelizmente, para onde foi Freud, com quem, o que tinha na 007 e o que significava T.W.V.S., infelizmente não poderei dizer a vocês, caros leitores. Isso se tornou um segredo de Estado, mas quem sabe os anos vindouros e umas boas doses de vinho podem nos revelar esses bons segredos.

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