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Um Brasil desigual

                          O cenário eleitoral que ora se apresenta no Brasil é devastador. A diferenciação partidária é mínima e o pior, a vontade política de mudanças estruturais é menor ainda. Dilma e Serra representam, na verdade, a mesma cor, o mesmo tom, a mesma proposta, a mesma coisa. Esquerda hoje, salvo alguns poucos arautos no deserto, não mais existe. Tudo hoje se misturou, tal como se misturaram bons e mals, direita e esquerda, políticos e pastores, carecas e barbudos, delegados e bandidos, joio e trigo. 
                       Isso me faz lembrar o que relata Ricardo Antunes em um de seus livros. Segundo o autor, haveria uma séria ameaça à democracia quando a velha organização sindical chegasse ao poder. Quando o operariado, já com o movimento sindical totalmente desfigurado, chegasse ao poder, haveria um corrompimento das estruturas democráticas. E é justamente isso que se observou nesses 8 anos de mandato de Lula. Um exemplo disso é que as reformas fiscal, judiciária e tributária, tão almejadas pela classe trabalhadora, não sairam e talvez nunca sairão do papel. A pouca vontade política e, o pior, a inércia do povo subsidiam a manutenção do status quo vigente. Um país onde ricos são cada vez mais ricos e pobres cada mais pobres.
                       Vai lá um petista dizer que no governo atual perto de 30 milhões de pessoas migraram da classe D para a classe C ou que apenas em 2009, cerca de 8 milhões de pessoas migraram para a classe média. Isso pode ser um dado interessante, mas devemos temor e respeito ao interpretar algumas dessas estatísticas governamentais. Essa tendência de melhoria social é em nível mundial. Países sul americanos também melhoraram. Países asiáticos, europeus e até alguns africanos (África do Sul, por exemplo) também. Ou seja, melhorar a qualidade de vida não se deve à estrutura governamental, mas também a outros fatores, como a globalização, o avanço da tecnologia, a melhoria da medicina, da engenharia, da ciência como um tudo. 
                       Outro ponto de análise para a manutenção do status quo tupiniquim:  nesse mesmo governo Lula, segundo dados do IPEA, os pobres pagaram mais impostos e os ricos, menos. Isso porque no início do governo Lula, os pobres pagavam perto de 43% de sua renda em impostos e agora pagam 49% e os ricos, que pagavam antes 28%, agora pagam apenas 26%. Um outro ponto nessa mesma esteira é que a carga tributária passou de 32,67% do PIB para 34,85%. Embora pareça pouco, o PIB e a carga aumentaram, o que representa um acinte para o desenvolvimento da sociedade brasileira.
                       Desperdício e máquina estatal inchada  sempre foram as marcas da administração pública. Dilma e Serra têm propostas, mas poucas efetivamente mudarão esse quadro. Mudar isso não são propostas de um governo sério e comprometido. E nunca serão! Exemplo disso é a liberação há poucos dias para o leilão da construção do trem bala ligando Campinas ao Rio de Janeiro. Essa mega operação custará R$ 34,3 bilhões (desse valor 30% virá do governo federal). Só para se ter uma ideia, a quantia empregada pelo governo, segundo projeções baseadas em dados do IPEA, seria suficiente para, numa única bagatela, levar coleta e tratamento de esgoto a quase 5,5 milhões de pessoas em 1 ano e 2 meses!!!!  
                   Vários outros pontos poderiam ser citados e discutidos, mas isso cansaria o leitor, que muitas vezes também não quer saber das mudanças sociais ou mesmo das políticas. Melhor mesmo é chorar ao ver 22 milionários perderem na Copa, esperarmos a de 2014 e continuarmos no país do samba, do futebol e das bundas e peitos turbinados.


Por
Rogério Rodrigues
                                        

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