Como vocês sabem, estou fazendo um doutorado na área de desenvolvimento sustentável e tenho me dedicado nesses tempos a compreender um pouco mais sobre questões relacionadas, principalmente, às mudanças de comportamento de consumo e de produção.
Dessa forma, e como resultado de algumas leituras, passo a vocês alguns dados interessantes que encontrei relacionados à produção de energia no Brasil. Como era de se esperar, a principal conclusão é de que é fundamental e urgente que repensemos nossos modos de produção de energia, calcados hoje na utilização dos combustíveis fósseis. Além de serem os maiores contribuintes com os gases relacionados ao efeito estufa (daí o CO2, CH4, N20 e o CFC 11), são também fontes não renováveis de energia, ou seja, daqui a bem poucos anos não teremos mais esse tipo de combustível disponível.
No que se refere às emissões de CO2, , se continuarem com a mesma mesma proporção de emissão que hoje se encontra (em 2002 houve uma emissão de 7,8 bilhões de toneladas e há uma projeção de 16 bilhões de toneladas para 2050) haverá um acréscimo de 6º C na temperatura média do planeta por volta de 2100. Você sabe o que significa isso? O derretimento de quase 70% das calotas polares e um aumento do volume de águas nos oceanos e mares. Além disso, não será possível, inclusive, o plantio de alguns alimentos em determinadas zonas do mundo, para não se falar na própria vida humana e animal que se tornará bastante difícil. O ideal é, segundo o International Climate Change (Painel que reúne os maiores especialistas em mudanças climáticas do mundo), que em 2050 haja uma emissão de 9 bilhões de toneladas (ou 9GTC), ou seja padrões de emissões muito próximos aos de hoje.
Essas projeções são ainda mais catastróficas se pensarmos que independentemente do nível de desenvolvimento projetado, o carvão, o petróleo e o gás (hoje representam perto de 96% do combustível utilizado no Brasil) continuarão como fontes primárias de energia. Daí a necessidade de investimentos maciços em fontes alternativas de energia (solar, eólica, das ondas, das marés ou geotérmica). Segundo a Avaliação Ecossistêmica do Milênio (ONU), é preciso que haja um crescimento de 11% na produção de energia eólica, geotérmica, ondas e marés e de 20% para a energia solar (hoje no Brasil, o potencial instalado desse tipo de energia de 0,003%, segundo dados da ANEEL)
Nessa linha, pergunto-me: Quanto tem sido investido nessas novas alternativas de produção de energia no Brasil? Segundo André Trigueiro, autor de alguns livros sobre o tema, a Petrobras hoje só investe 3,45% do seu montante de pesquisa nas destinadas a energias renováveis como a eólica. Isso significa que pesquisas destinadas à produção de energia eólica, fotovoltaica e outras estão relegadas a um segundo plano. Isso, contudo, não significa baixa lucratividade, já que uma fazenda eólica com a capacidade de geração de 100 MW pode ter uma receita bruta anual de US$ 18 milhões, com uma vida útil de cerca de 20 anos. É muito dinheiro para o potencial brasileiro!
Aliás, esse tipo de energia, pouco explorada no país, tinha um potencial instalado em 2002 de apenas 22 MW (a capacidade total de todas as energias instaladas à época era de 73000 MW) sendo que o potencial apenas para o Nordeste do país era de 6000 MW e para o Brasil todo de 143.000 MW, segundo dados do Centro Brasileiro de energia eólica, UFPE. Seguindo nessa mesma linha, o potencial eólico instalado no Brasil representa apenas 2% do total, sendo que a energia elétrica representa perto de 65% do total e a termelétrica perto de 32%.
A energia eólica representaria um grande avanço para o Brasil, sobretudo no preço final pago para as indústrias e outras demandantes de energia. As principais vantagens da energia eólica, segundo estudos do Centro Brasileiro de Energia Eólica são: combustível gratuito; independe das instabilidades políticas e econômicas; tem um curto prazo de instalação. Além disso, o Brasil tem uma vantagem natural muito maior em relação à Europa para essa produção: aqui temos velocidade e direção bem definidos dos ventos e na Europa existem ventos com grandes variações de velocidade e direção, o que representa um potencial menor de produção.
Só para termos um nível de comparação, a Alemanha, país infinitamente menor que o Brasil, já em 2002 tinha uma produção de 120.000 MW de energia eólica (só para compararmos, o potencial instalado e outorgado no Brasil hoje é de 144.696 MW com todos os tipos de energia). Isso sigifica que perto de 30% de toda a energia consumida naquele país já vinha de energia eólica. Diante disso, uma pergunta vem-me à cabeça: por que um país tão grande e potencialmente superior como o nosso não produz uma quantia razoavelmente superior à alemã? Tecnologia? Não porque temos empresas e centros de produção altamente qualificados para isso. Recursos naturais? Sem comentário. Investimentos? Se observamos os nomes das empresas do PROINFA (vide ANEEL) a maioria é de estrangeiros, além disso, concessões públicas são altamente rentáveis nessa área. Vontade política? Certamente. Vontade que tudo continue a mesma coisa e que nos deleitemos com a corrupção ou até mesmo com nossas "grandes vitórias", como a sede da Copa e das Olimpíadas? Certamente.
Notem ainda que a região nordeste, carente, inclusive de energia é a que possui maior potencial eólico do país. Isso seria suficiente para que pequenas e médias indústrias fossem instaladas nos municípios fronteiriços às fazendas de produção de energia eólica e gerarem emprego, renda e desenvolvimento sustentável para aquela região já que teria baixímo impacto ambiental, custos viáveis de instalação e produção, mas principalmente, altíssimos resultados sociais. Todavia, o que se observa hoje é que os governos federal e estaduais pouco têm vontade política de que esse quadro de miséria e dependência (bolsa família, bolsa gás, bolsa comida, bolsa cultura, bolsa de couro e bolsa de plástico também) se altere.
Talvez faltem informações. Talvez falte vontade política. Talvez falte iniciativa corporativa. Talvez falte a você, caro leitor, pensar melhor e ver que os entraves para o nosso desenvolvimento são ainda muito, muito grandes e que PIB alto, fazer parte do BRIC, emprestar dinheiro para outros países, ter altas sucessivas da bolsa de valores e outras façanhas brasileiras com FHC e Lula podem não ser indicadores sustentáveis verdadeiros.
Infelizmente o desenvolvimento econômico, a preservação dos recursos naturais, as necessidades da atual geração e das gerações futuras não são prioridades, não de modo aparente.
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